domingo, 3 de agosto de 2014

Entrevista - Camila B. Monteiro

Ex-gordinha



Nesses nossos passeios pela internet sempre nos deparamos com pessoas que temos afinidade e que conversamos e trocamos informações. Camila chegou, se alojou no meu blog e eu retribui. E descobri que ela fez cirurgia bariátrica, aquela de reduzir o estômago, e gentilmente concordou em responder a umas perguntas curiosas e que, certamente, poderá ajudar quem tem dúvidas ou medos.

Como ela se define: lê muito, escreve muito, assiste muito seriado, enfim, uma pessoa deliciosa de conversar. Mas a defino como escritora também. Se escreve em algum lugar, se tem livro lançado, é escritora! Cliquem no link do blog dela pra saber do livro lançado.

Tem os blogs http://www.vidacomplicadademais.blogspot.com.br/ e o http://pesopocket.wordpress.com/.

Infelizmente o preconceito é grande e está longe de ser deletado da vida das pessoas. O ser humano é crítico e cruel. Fala sem pensar e ainda coloca a aparência acima da capacidade intelectual. Pena, mas é assim, infelizmente.

Vamos à entrevista.

1) Como foi sua infância e adolescência? Era uma pessoa fofinha ou fortinha, como muitos chamam?

Eu sempre fui gordinha. Não chegava a ser obesa, mas sempre estive acima do peso, vou me conhecer magra pela primeira vez com essa cirurgia. Minha família toda tem o mesmo problema e a alimentação nunca foi a minha maior preocupação na vida.

2) Quando começou a engordar? Qual foi o motivo?

Foram várias coisas juntas. Meu maior ganho de peso veio depois da faculdade, com as frustrações de emprego aliada a perda dos amigos todos. Além disso, passei por uma desilusão amorosa que me jogou no fundo do poço. Esse foi o meu maior auge de obesidade. Nada na minha vida estava bom e a única coisa que me dava prazer era ver séries e comer.

3) Acho que não preciso perguntar se sofreu algum tipo de preconceito por estar acima do peso, mas me diga como lidava com isso? 

Sofri muito pouco porque sempre fui muito comunicativa. As pessoas se sentiam bem ao meu lado porque “nós, gordinhos” gostamos de compensar nossa aparência com algo divertido, mas não tive muitos namorados. Eu servia como amiga e não como amante. Isto sempre me entristeceu muito.

O maior preconceito eu enfrentei na área profissional. É difícil arrumar emprego sendo obesa, principalmente se estivermos competindo com pessoas magras. Ainda existe muito disso e nem sempre a experiência e responsabilidade vencem o excesso de peso em uma seleção.

4) Demonstrava estar feliz com seu corpo mesmo sem estar? Como era a hora de se olhar no espelho? E com namorados?

Eu nunca me senti feliz com meu corpo, mas passei por períodos em que não ligava muito. Namorados foram poucos, mesmo porque eu me escondia muito e não me aventurava. No fundo eu não achava justo querer ter uma vida amorosa já que eu não tinha um corpo legal. Acho que é uma forma de me punir mesmo que inconscientemente.

5) Quando resolveu fazer a cirurgia? Já havia tentado dietas ou reeducação alimentar? Deu certo ou depois engordou tudo de novo? Efeito sanfona?

Desde os 12 anos faço dieta. Há 20 anos era normal tomar remédios pesados para auxiliar e isto contribuiu para minha obesidade agora. Eu cheguei a emagrecer mais de 20 kg em dois meses e engordei 40 kg na mesma velocidade. Meu corpo sofreu e apareceram as tão temidas estrias. Fiz dietas malucas, fiz dietas certas com acompanhamento médico ou não. Fiz massagens, drenagens e nada funcionava. Tudo que eu emagrecia voltava em dobro em um final de semana apenas. A cirurgia foi minha última tentativa.

6) Como você se sentiu quando resolveu realmente fazer a cirurgia? O que passava em sua cabeça? Se olhava no espelho e já se enxergava mais magra?

Não me sinto magra até agora com quase 20 kg a menos. Fui conhecer o médico e ver como funcionava a “coisa toda” e saí do consultório com encaminhamentos de exames e planos de dieta. Foi um susto, mas me animou como nunca havia acontecido na minha vida.

Pela primeira vez consegui fazer dieta de verdade, com opinião forte do que queria e emagreci 6 kg antes da cirurgia sem sofrer ou ficar irritada.

7) Quando marcaram o dia, como conseguiu lidar com a ansiedade sem enlouquecer ou se entupir de comida?

Minha cirurgia estava marcada para o dia 28/07 e no dia 11 me ligaram do consultório e disseram que havia uma vaga para dali 3 dias. Tive que suportar só esse tempo, mas foi como se fossem 4 meses de espera.

Não vou mentir, tomei um café da manhã mais reforçado nesses dias, mas conservei a minha dieta com toda responsabilidade. Eu sabia que meu corpo precisava se sentir mais saudável para passar bem pela operação.

8) Na hora em que já estava deitada na maca, quando lhe deram a anestesia, o que pensava naquele momento? Teve medo de não dar certo?

Nós tomamos duas anestesias, uma peridural e logo em seguida a geral. Senti medo até o momento de entrar no centro cirúrgico, mas lá dentro a equipe é enorme e todos ajudam muito, dão amparo e nos tranquilizam. Dormi tranquila confiando neles. Acho esse processo muito importante: confiar no médico. Sem isso eu não teria nem deitado na maca.

9) Quando abriu os olhos, depois de acabar a anestesia, quem viu primeiro ao seu lado? Teve apoio de todos e teve críticas também?

Acordei na sala de recuperação e levantei o lençol para ver meu dreno. Esse era o meu maior medo desde o começo. Eu sabia que ficaria 7 dias com ele e isso me preocupou. Mas eu não sentia dor alguma e as enfermeiras ao meu redor eram adoráveis. Tudo ocorreu super bem até ir para o quarto onde meus pais estavam me esperando.

Até agora só contei com apoio, apenas alguns amigos acharam que eu estava sendo radical demais, mas logo entenderam minha necessidade e hoje me confortam demais na recuperação.

10) Como foi a recuperação? Dolorida? 

Os 5 primeiros dias foram complicados. Por causa do dreno eu não conseguia deitar, então dormi na sala até tirá-lo. Ele passa perto do diafragma e isso causa dores no ombro do lado que ele está além da falta de ar quando eu me deitava. Fora isso levava super bem. Ele em si não doía, era mais o reflexo.

Ao contrário da minha preocupação, não senti absolutamente nada quando fui tirá-lo – nem dor, nem aflição. Foi como tirar um Band-Aid. Senti-me até boba por ter me preocupado tanto e o alívio ser imediato. Saí do consultório já sem dor alguma, pareceu mágica!

Andar fazia com que as dores passassem também, então eu caminhava muito e isso me ajudou demais. Não tive problema alguns nesses dias além de não conseguir deitar. Logo que acordamos no quarto do hospital já chega uma fisioterapeuta e nos coloca para passear nos corredores, é um barato!

11) Sente falta do alimento, depois que passou a fase crítica do pós operatório?

Sinto falta de coisas salgadas. A dieta é muito doce (gelatina, suco, iogurte, pudim, água de coco) e eu sempre preferi coisas salgadas. Desde o segundo dia venho sonhando em comer pão com manteiga e por incrível que pareça passei a gostar de ervilha (posso comer sopa de ervilha), coisa que não gostava antes. Hoje anseio pelo dia de poder comer uma salada de ervilha (rs).

Mas é controlável. É um trabalho constante de reeducação alimentar mesmo. Não sinto fome alguma e sei que isso é só gula, então trabalho no meu psicológico, me distraio e vou levando. Ainda me sinto bem forte diante de comidas.

11) Tem acompanhamento familiar e psicológico?

Minha família me ajuda muito e a equipe que me operou conta com vários profissionais e um deles é uma psicóloga. Não são muitas seções, mas são excelentes. O trabalho maior é meu mesmo. Tenho que reafirmar minha força de vontade sempre e acho isso ótimo, daqui a pouco poderei comer de tudo e jamais quero voltar a engordar novamente.

12) Já vê resultados?

Sim! Nas roupas e no meu rosto. Sinto que estou “diminuindo” (rs). Tenho só 20 dias e duas fotos para comparar apenas (tirarei de 15 em 15 dias), mas é visível a diferença e as pessoas já começaram a notar. É delicioso.

13) E hoje, como se enxerga no espelho? 

Um pouco melhor. Não tenho tanto medo de me olhar como antes. Ainda tenho um caminho enorme pela frente, mas vejo que toda a dificuldade está valendo a pena de verdade.

14) Tem sonhos ou esperanças que havia se esquecido com o tempo? Vai resgatá-los ou o tempo é outro agora?

Resolvi fazer a cirurgia porque sou uma escritora que se esconde dos leitores. Tenho planos e ideias incríveis que estavam guardadinhas por que eu tinha medo de tirar foto ou de aparecer em uma reportagem. Já estou tirando esses rascunhos das pastas e quero fazer algo legal até o final do ano.

15) Tem consciência de que terá que se cuidar pelo resto da vida?

Tenho. É o que eu mais penso nos últimos tempos. Não faltam casos de pessoas que fizeram a cirurgia, ficaram magros e voltaram a engordar depois. Eu não quero fazer parte dessa estatística. Quero aproveitar essa oportunidade para consertar meus erros definitivamente.

16) Está feliz?

Muito. Ver o que eu mais lutei para ter acontecendo diante dos meus olhos diariamente, tem feito minha autoestima crescer muito.

17) Tem algum conselho a dar pra quem está ou esteve na mesma situação que você?

A cirurgia Bariátrica é uma excelente solução, mas precisa ser encarada com máxima responsabilidade. É necessária muita força de vontade e vale a pena passar por cada dificuldade.

Meu conselho é que o interessado pesquise bem todos os efeitos colaterais e também as dificuldades antes de encarar o centro cirúrgico. Feito isso é partir para a vida nova, saudável e ser feliz.

18) Aconselha a cirurgia?

Com certeza eu recomendo. Acho que foi a coisa mais certa que já fiz em toda a minha vida.

Camila se tiver algo importante e que não foi perguntado, por favor, diga-nos.


Tenho sim. As pessoas precisam entender que obesidade não é preguiça e sim uma doença que pode matar. O tratamento nem sempre é simples e como qualquer disfunção pode atrapalhar a vida de uma pessoa.

Muito obrigada, Camila, as informações são sempre muito importantes pra quem quer e precisa tomar alguma providência. Que seus sonhos se realizem e que você seja feliz e confiante daqui pra frente.


11 comentários:

  1. Clara Lúcia

    Fizeste um grande e esclarecedora entrevista, com a entrevistada colaborou muito bem. Eu leito muito atento, embora já tenho carregado mais 45 quilos que, atualmente, nada tenho a opinar, porque as circunstâncias são diferente, No entanto a força de vontade precisa será a mesma. No meu caso, nem fiz dietas nem operação específicas. Eu mesmo tomei medidas, como: deixando de ingerir álcool, nomeadamente cerveja, deixar de comer pão, senão ao café, Ir reduzindo quantidades. Fazendo as refeições à base de grelhados e saladas. Em meses recuperei o meu peso dos 20 anos,
    74/75 kilos. Como recado deixo dito que, saber manter, as quantidades do que se come é primordial, em qualquer circunstância.
    Abraços

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    1. Que ótimo, Daniel, força de vontade e determinação é fundamental pra se chegar a um resultado satisfatório. Ser moderado, ter consciência de que se deve cuidar da saúde e se movimentar é necessário a vida toda. Comemos pra viver e não vivemos pra comer.
      Fico contente que tenha vindo aqui dar seu testemunho. Qualquer informação ou exemplo é bom grado pra quem necessita de apoio.
      Uma ótima semana! Abraços!

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  2. Ahhh cheguei Lúcia! Me desculpe a infinita demora, mas eu vim. Hoje estou aqui no consultório esperando a minha consulta de retorno de 1 mês de cirurgia e aproveitei para passar aqui e te deixar um beijo!

    Obrigada pela oportunidade!

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    1. Vou acompanhar sua trajetória. Que dê sempre tudo certo!
      Obrigada, mais uma vez!
      Beijos

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  3. Gostei da entrevista e da sinceridade.Foste bem real.Gostei! bjs, tudo de bom,chica

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  4. Vim conferir, Mila é mais que vencedora!!!

    bjokas =)

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  5. Ótima entrevista, Camila! Fiquei curiosa quanto a seus novos projetos literários. Beijos!

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  6. Vim aqui através da Camila. Gostei das considerações dela, embora tenhamos ponto de vistas diferente em alguns aspectos, mas as pessoas são assim, não é mesmo? Não é porque carregam no corpo o sobrepeso, por exemplo, que devam pensar de forma igual. Aliás, no grupo do qual faço parte, que trata da preparação pra essa cirurgia, eles alertam desde o início pra o fato de que a cirurgia é no estômago, não no cérebro, que será sempre de gordinho. E é com isso que devemos aprender a lidar.
    Sobre discordar da Camila, é apenas sobre ela achar que apenas as pessoas magras tem direito a se sentir bem e amadas. Mas, enfim, é apenas um ponto de vista.
    Estou feliz pelas conquistas dela e quero logo estar vivendo isso também, por questões de saúde principalmente.

    Abraços.

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    1. Boa sorte pra vc, Milene.
      Cada caso é um caso e se não se sente bem é bom procurar recursos pra melhorar.
      É uma bobagem mesmo, tbm acredito nisso, mas eu, mesmo não sendo tão gordinha assim, gostaria de ter um corpo mais magro. É psicológico mesmo e a gordura continua no cérebro.
      Beijos e obrigada pelo comentário!

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  7. Linda entrevista parabens as duas ,beijinhos

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  8. Ótima entrevista! Bem, eu acho que o ponto maior de tudo é se sentir bem e estar bem. Precisamos trabalhar a estética, a saúde e o psicológico junto independente dos nossos objetivos.
    Para mim, o foco tem que ser a saúde, mas muitas pessoas esquecem que além de aspectos físicos, a saúde mental também é muito importante. Não adiantaria a Camila tentar mil dietas e tratamentos que não tinham funcionado e a deixando mais frustrada e deprimida, não adiantava ela ficar do jeito que estava porque não estava fazendo bem nenhum para ela. Super apoio quem quer mudar o seu estilo de vida para si mesmo e não para os outros!
    Eu, por exemplo, tenho o problema ao contrário, sou muito magra e tenho dificuldade de ganhar peso, ao mesmo tempo não quero super engordar. De qualquer forma, estou trabalhando para conquistar os meus objetivos de uma maneira que melhore minha qualidade de vida em todos os sentidos.
    Ter saúde e ser feliz, esse deveria ser objetivo de todo mundo independente do resultado estético que almeje. E se o resultado da Camila é ficar magrinha que ela seja muito feliz e conquiste todos os seus sonhos! <3

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